quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Entendendo as Eleições 2014: Reflexões de um eleitor consciente

Meus queridos:
Em um período curtíssimo entre o primeiro e o segundo turno, e sobretudo extremamente decisivo para o futuro de nosso país, é de grande importância que sejamos conscientes em nosso voto.
A missão que temos como cidadão e nacional é, acima de tudo, em uma democracia, nos colocarmos na posição de detentores do poder, e escolher quem vai exerce-lo em nosso nome.
Assim, acho de extrema valia partilhar uma das melhores coisas que li a respeito desse momento paradigmático vivenciado, e que demonstra em uma em que pese breve, muito profunda reflexão.


Por Márcio Bertoldo Filho

(Advogado, Especialista em Direito Tributário, Sócio do Escritório  Bertoldo e Camargo Advogados Associados)
http://www.bertoldoecamargoadvogados.com.br


"Tenho lido alguns posts fanáticos em meu facebook, e mesmo sofrido algumas ofensas por parte daqueles com os quais não me identifico, ou seja, eleitores da Dilma e esquerdistas em geral.
Desta forma, acho adequado deixar claro um pouco da minha história (minha, de minha família, do Brasil e também, por que não, do mundo.
Nasci em 1984, no meio da redemocratização e da campanha Diretas Já. Desde muito pequeno me interesso por política e me lembro, com certa clareza, de todas as eleições a partir da de 1989, quando o Collor ganhou.
Vou falar agora um pouco sobre o Brasil naquela época, em especial pelo que vi e vivi com minha família.
O Brasil era um país pobre, cheio de miseráveis, vindo de uma década de recessão terrível. A inflação era algo absurdo e a materialização disso era, por exemplo, o fato de minha mãe ter que fazer compra no dia em que meu pai recebia seu salário, pois, se esperasse pra fazer no dia seguinte, o dinheiro não seria suficiente.
Me lembro de como foi um dia entrar no supermercado e ouvir de minha mãe que ela não poderia comprar um pedaço de mozarela, pois não tínhamos dinheiro para tamanha extravagancia. Não havia do que reclamar. Perto da média da época, podíamos nos considerar afortunados de ter um teto de uma casa popular geminada sobre nossas cabeças.
No mundo, depois de quase mais de meio século de divisão entre dois sistemas econômicos, o comunismo/socialismo acabara de perder seu grande mantenedor, a União Soviética, que cedia ao capitalismo e iniciava uma profunda mudança em sua economia.
Nesse contexto, chegamos às eleições de 1989.
Foi sem dúvida um período interessante, pois havia, pela primeira vez no Brasil desde antes da ditadura militar, um partido que levava o ideário socialista/comunista para as massas, com real chance de mobilização. Este partido era o PT. 
Pra quem não viu o PT dessa época, sugiro verificar a propaganda da Luciana Genro, pois a propaganda dela é algo muito parecido com aquilo que era pregado pelo PT na época.
Havia um outro candidato, que falava bem, se apresentava bem, e representava ideias menos chocantes que aquelas levadas pelo PT. Esse candidato era Fernando Collor, conhecido senador da República nos dias atuais.
Referida eleição se polarizou entre Lula e Collor, terminando com a vitória do segundo, haja vista que o ideário comunista/socialista do PT não funcionou. Não funcionou porque, naquele momento, o embate capitalismo x comunismo/socialismo era algo superado pela queda do muro.
O Brasil continuava pobre. A situação não havia melhorado muito com a redemocratização, e o país continuava passando por um plano econômico seguido de outro. Pessoalmente, me lembro do desespero de meu avô que, em um único plano econômico, perdeu todas as economias de sua vida num desses confiscos pelos quais passamos.
Caiu Collor depois do movimento dos caras pintadas (lá pra 1992). Me lembro com clareza do momento, pois, por mais de uma vez, tive minhas bochechas pintadas com tinta guache por algum familiar ou na escola.
Esse movimento foi algo espetacular na história do Brasil. Existia um certo temor generalizado de uma possível volta dos militares, algo que não se viu concretiza talvez pela força do povo nas ruas.
Não obstante, pelo que vivenciei nos anos seguintes de minha vida, tenho certeza que o Collor caiu mas por arrogância do que de fato por um escândalo especifico, já que os governos seguintes fariam coisas semelhantes ou mesmo mais graves.
Caiu Color, subiu Itamar. Itamar era uma figura com um topete que colocou um tal de Fernando Henrique Cardoso no seu governo. Esse tal de FHC veio com mais um plano econômico e eu, no auge dos meus 10 anos de idade, já logo previ que vinha merda. Isso porque nos meus 10 anos de idade eu tinha passado por Plano Cruzado, Plano Bresser, Cruzado Novo, Cruzeiro, Collor e isso só pra citar os que lembro pelo nome.
Logo previ as remarcações de preços nos supermercados, desabastecimento (me lembro de entrar no supermercado e o açougue não ter carne).
Na época esse plano começou com a URV (acho que significava unidade de valor real, ou algo do tipo) e, um ano depois, nasceu o Real.
Felizmente, desta vez acertaram e, pela primeira vez em minha vida, eu sabia quanto algo que eu queria custava.
Na esteira do sucesso do Real, FHC se elegeu presidente, assumindo em 1994.
Se todos os anos fossem como 1994, acho que eu não teria chegado aos 30 como cheguei. Em 1994 vi o Senna, meu maior ídolo até hoje, morrer ao vivo na televisão (Não, você não faz ideia do que foi isso se não viveu na época, e não, nunca vai acontecer nada igual).
Mas o Brasil ainda era um país de miseráveis. Não acredita nisso? Procure os vídeos do enterro do Senna, onde vê-se a pobreza da maior cidade do nosso país.
Vi o tetra em seguida. Vi uma economia estável, sem inflação, e consegui, pela primeira vez na vida, decidir não comprar algo hoje pra guardar e comprar amanhã, pelo mesmo preço.
Isso foi algo fantástico, pois, acredito que entre 1994 e 1996 pude comprar um kinder ovo por 1 real, uma vez por semana, pelo mesmo preço, algo até então impensável.
Sobrevivemos, e de 1994 a 1998 vi o país melhorar e muito com a estabilidade econômica. 
Nesse período vi o PT crescer e se firmar como oposição. Sabe como essa oposição funcionava? Sendo contra tudo aquilo que era do governo, independentemente de ser uma medida boa ou ruim. O governo lança o real? O PT é contra. Lei de responsabilidade fiscal? O PT é contra. E assim vivia o PT.
Vi o governo ser acusado de comprar a reeleição. Vi a crise de 1999, que resultou no câmbio flutuante, de fato um período complicado. E era perceptível que ainda tinha muita gente na pobreza no Brasil.
Mudei em 2000 para o Canadá, onde fiquei até 2001. Quando voltei em 2001, me assustei em como o país havia mudado em um único ano. Exemplo? Fui de Espírito Santo do Pinhal até praticamente Campinas em uma pista única e, quando voltei, fui em uma pista dupla.
O Brasil dava sinais claros de que estava no rumo certo.
Finalmente, em 2002, após um esgotamento do governo FHC, subiu Lula ao poder.
Confesso que não votei nele (minha primeira eleição como eleitor), pois tenho uma repulsa à figura desde que meu pai me contou o que meu avô lhe havia dito em 1978/79, quando o Lula ainda era sindicalista no ABC e meu pai estudante universitário.
Meu pai havia ido a um comício do Lula no ABC, e contou a meu avô sobre as maravilhas que havia ouvido. Meu avô, um senhor já de uma certa idade que sabia ler e fazer as 4 operações básicas, profetizou a meu pai: “Não se engane meu filho, esse senhor só quer ser Presidente.”.
De volta em 2002, assisti a subida do PT ao poder. Foram 04 anos espetaculares de crescimento e inclusão social. Aquilo não me incomodava, muito pelo contrário, a princípio, fiquei feliz por meu avô estar errado.
Verdade seja dita, a conjectura mundial ajudou muito nesses quatro anos, com a explosão da economia chinesa, dentre vários países emergentes. Ocorreu nessa época um fenômeno bem interessante. De maneira curta e grossa, as commodities se valorizaram e os bens de consumo se baratearam, invertendo-se a lógica da economia então vigente. O dinheiro passou a fluir praqueles que dispunham de economias primarias.
Nesse período, minha maior preocupação era protestar contra as injustiças do imperialismo ianque no Iraque, Afeganistão e demais países pós 11 de Setembro.
Chegamos ao segundo governo Lula. Nesse segundo governo vivemos uma crise mundial, que fez com que todos os países colocassem o pé no freio. E o Brasil não foi diferente. Nesse momento surgem escândalos seguidos de escândalos, e a profecia de meu avô se torna realidade. O PT quer o poder pelo poder. E pra isso vai aparelhar o estado, cometer crimes e fazer tanto quanto o necessário pra se manter no poder.
E é ai que começa o meu problema com o governo atual.
Veio em 2010, ainda na popularidade do Lula, o governo Dilma, que é a continuação podre do aparelhamento estatal, desordem social e econômica que vivemos.
Hoje vejo aquilo que vi quando menino nos supermercados. Vejo inflação. Vejo desabastecimento (vide a sugestão do PT pra trocar a carne pelo ovo). Vejo uma política que se vale daqueles desfavorecidos pra garantia de um projeto de manutenção no poder de um partido. E é por isso que eu voto contra a Dilma e o PT.
O Fernando Henrique e o PSDB não foram os responsáveis pela pobreza do Brasil, essa pobreza já existia e é resultado direto do nosso modelo colonial. O FHC e o PSDB simplesmente escolheram um enfoque econômico pra enfrentar o problema e, tendo vivido tudo o que vivi, posso dizer com toda a certeza que Lula não teria feito o que fez entre 2002 e 2006 não fosse o plano real e o governo Fernando Henrique.
Dessa forma, peço a todas as pessoas do meu FB que votem sim contra o PT, pois, boa parte daquilo que vocês ouvem do PT e dos partidos de esquerda não é verdade. O PSDB não inventou a pobreza, ele tem seu valor histórico e hoje, representa a única alternativa à estagnação do governo petista.
Um Abraço."